domingo, 23 de setembro de 2007

Já era o Nuno Machado # 50 - TransPortugal 2005

TransPortugal 2005

Quando no final de Setembro de 2004 (em plena realização do Caminho de Santiago) me comprometi a realizar a Supertravessia em 2005 não me passava sequer pela cabeça no que me estava a meter. Embora alguém me alertasse para o que estava para vir, que grosso modo se resume a 11 dias passados ou em cima ou muito perto da bicicleta, fazendo perto de 1200 Kms e cerca de 23.000 mts de acumulado de subida, sempre guiado pelo GPS. Isto só para unir Bragança e Sagres.

A Preparação

A preparação não podia esperar era preciso começar um “esquema” que me permitisse estar apto a passar muito tempo, por dia, em cima da bicicleta e durante muitos dias. Para tal contei com a preciosa ajuda do Vitor Gamito e do seu sistema de treino. Definimos dias e tempo de treino e objectivos intermédios que iriam servir para balizar a minha evolução. Todo o esquema caiu por terra pois, em Janeiro, uma valente queda e uma fractura de clavícula colocaram-me no sofá durante 11 semanas. Volta aos treinos só a meio de Abril. Os treinos então ficaram mais intensos (por vezes bi-diários) para voltar a criar massa muscular e endurance. Feitas as contas faltavam cerca de dois meses para o inicio da aventura.

A Partida para Bragança

Antes do arranque ainda passamos no Aeroporto para apanhar dois participantes vindos dos EUA (Genuíno Madruga e Cal Burgart), com o Genuíno tudo bem mas com o Cal as coisas não corriam pelo melhor, entre problemas de voos, e atrasos no embarque em Paris, eis que a sua bagagem inclusive a bicicleta, não chegam a Lisboa. (acabariam por chegar no dia seguinte a tempo de o Cal seguir para Bragança e alinhar à partida)

A Adaptação

No dia anterior ao da partida fomos fazer uma curta adaptação à primeira etapa, entrar em montesinho e sentir o calor transmontano (40º C às 12h). Deu logo para perceber que ia ser muito duro e que hidratar seria palavra de ordem ao longo dos 11 dias. Neste dia ficamos ainda a conhecer o Checo Vit Herman que após ter aterrado em Madrid montou a bicicleta e veio a pedalar até Bragança, demorando 3 dias a percorrer a distância.
Tempo ainda para os últimos acertos nas máquinas, primeiro briefing (acto que se viria a tornar solene nos próximos dias), distribuição dos números e ultimas duvidas.

Dia D
1ª Etapa – Bragança – Sendim – 108 Km – 2750 mts de acumulado
Uma das mais duras

Felizmente as previsões apontavam para uma descida da temperatura de cerca de 5º C (35º já é mais aceitável do que os 40º do dia anterior).

Após o pequeno almoço começa a azáfama da partida, verificar pneus pela ultima vez, ver suspensões, lubrificar corrente, limpar algumas peças vitais, tudo serve para esconder ou enganar algum do nervosismo que se instala nestas alturas.

10 horas, partida para a Supertravessia 2005 (alguns já tinham partido fruto da bonificação por idade). Os primeiros Kms conduzem-nos até Montesinho, para começar-mos a subir quase 15 kms. Depois um sobe e desce constante, e no final de cada descida lá encontrava-mos o Rio Maçãs. Chegada a Quintanilha. Paragem para reabastecer de água e comer uma barra (água, barras e gel, a grande companhia durante todas as etapas). Até aqui já me tinha cruzado com participantes a arranjar alguns furos. Eu acabei por furar na subida da Senhora da Ribeira, mas decidi não fazer nada e deixar o Magic Seal actuar (decisão que se veio a revelar benéfica para a conclusão da etapa). De facto o Magic Seal actuou e segui de novo entre sobe e desce até Vimioso onde voltei a reabastecer de água. De seguida vinha a subida do dia que nos leva até Caçarelhos. Como alguém diria é uma subida em que se vai a morder o guiador, e tudo após cerca de 90km a pedalar ao sol. Depois de terminada a subida chega a ultima parte da etapa. Nesta fase eu pensava ganhar algum tempo pois a chegada a Sendim é rápida, mas o cansaço e vento sul (contra) fizeram com que o final não corresse como tinha planeado.
Assim o excesso de zelo (tentar sempre controlar a fadiga) quase me fizeram chegar após o fecho do controlo (salvo por 1m 27 s). No final lá estava o prémio diário, a tenda da Ciclonatur com o repasto de frutas, sumos e demais alimentos que a Berta e a Louise nos preparam, e que se tornou um clássico dos finais de etapas. Onde nos encontrava-mos e partilhava-mos as experiências de cada dia.

2ª Etapa – Sendim – Freixo de Espada à Cinta - 67 Km – 1581 mts de acumulado
Primeiro Contacto com o Douro – Etapa das Aldeias

Depois de uma primeira etapa dura a 2ª parecia bem mais fácil quer em numero de Km quer em desnível acumulado, como tal a dificuldade de hoje era o fecho do controlo (que ditava um tempo máximo de conclusão da etapa em 5h 30m).
No entanto era dia de ver o Rio Douro e de passar por um sem numero de aldeias ao longo dos 67 Kms que nos separavam de Freixo de Espada à Cinta.
O inicio da etapa é muito rápido e leva-nos em estradão largo até Bemposta para a primeira dificuldade do dia uma calçada romana (uma óptima oportunidade para desmontar e esticar as pernas) que nos leva até Lamoso, seguida de uma descida até ao rio. Nova subida a pé chegada a Algosinho para depois se seguir rapidamente para Ventoselo; Vilarinho dos Galegos, fazer a subida (esta montado) até Bruçó. – Paragem para reabastecer e comer. Entrar de novo numa zona rápida por entre lages e alguns degraus em direcção a Lagoaça, seguir para Fornos e após alguns Kms sermos brindados com a vista do vale do Douro e assim seguimos com o Douro como companhia durante a descida para Mazouco. E finalmente seguir para Freixo de Espada a Cinta onde estava a linha de meta, mas claro ainda faltava subir os 200 mts de calçada até ao Castelo. E assim chegamos à tenda do nosso contentamento.

3ª Etapa – Freixo de Espada à Cinta – Alfaiates - 122 Km – 2355 mts de acumulado
A Etapa do Douro

A saída de Freixo não dá para aquecer nem para pensar muito, pois começa logo a subir em direcção ao Penedo Durão (de onde se volta a ter vista privilegiada sobre o Douro). Aqui sou brindado pela escolta de um abutre que me acompanha, a menos de 10 metros, durante o tempo em que sigo no cimo do penedo (que imagem!!). Depois a descida para Poiares e de seguida um single track fabuloso, cheio de pedras e muitos degraus, ganchos e sempre com a falésia ali ao lado. Depois seguir ao lado do Douro até Barca d’Alva e depois de cruzar o rio seguir para a subida do dia perto de 15 Km até Figueira de Castelo Rodrigo e para terminar a dificuldade fazer a rampa (com perto de 15% de inclinação) que nos faz chegar a Castelo Rodrigo. Paragem para reabastecer e comer (descubro que o gelo é um grande aliado dos líquidos no Camel Bak). Faltavam perto de 72 Km para o final e o facto de serem mais a direito não implicava que fossem mais fáceis pois bastava que o vento estivesse sul para infernizar este final. E de facto estava vento sul, felizmente não muito quente. Na descida após Castelo Rodrigo o Sérgio foi atingido por uma águia que levantou voo atrás de um arbusto. – Como ele disse “una aguila con patas amarillas, como en las peliculas.”. Passagem pelo interior de Almeida sempre junto à muralha, e depois fazer os Kms finais em estradão largo à velocidade que o vento permitia. E claro está que na chegada a Alfaites tivemos ainda que subir para a linha de meta e para a tenda.
Esta etapa fica ainda marcada pelo facto de o Ricardo Melo que lutava pelo 1º lugar ter parado para ajudar o Luis Rangel (7º) num problema com a corrente. Um exemplo do desportivismo que impera na TransPortugal.

4ª Etapa – Alfaiates – Monfortinho - 85 Km – 1800 mts de acumulado
A Etapa da Malcata

A saída para o 4º dia também começa logo em subida pelo meio de uma mata de castanheiros que nos leva até ao ponto mais alto de toda a TransPortugal (1.100 m de altitude) a serra do Homem de Pedra que depois desce em direcção à aldeia de Fóios. Esta aldeia tem a particularidade de ser o ultimo ponto de água potável até ao final (a mais de 70 Km), como tal a organização decidiu criar um ponto de abastecimento, sem penalização, perto do Km 45. A entrada na Malcata (onde os linces já não aparecem) coloca-nos num local bem longe de tudo com muita pedra à mistura o que leva a que alguns furem por mais que uma vez, e depois de ter que parar para encher o pneu de trás decido que no final da etapa mudo de pneu. Dentro da Malcata o sobe e desce é constante com descidas rápidas no meio de muita pedra e que nos levam até um eucaliptal, onde se torna penoso andar de bicicleta pelo pó que se levanta e pela pedra escondida. Após o abastecimento entramos numa zona mais rápida que nos leva até uma reserva de caça (javalis e veados) onde pudemos entrar e que nos faz subir até à Barroca do Guez entre Serras. De seguida entramos numa descida larga mas de mau piso com muitos buracos e muita pedra a espreitar nos buracos (ainda não sei como não caí num deles). Depois chegamos ao Rio Erges que atravessamos para o lado de Espanha onde seguimos sempre junto à margem do rio para mesmo no final o termos de atravessar com a bicicleta às costas e água pelo joelho em direcção às termas de Monfortinho onde estava o final da etapa...
...e a tenda.





5ª Etapa – Monfortinho – Ladoeiro - 86 Km – 1973 mts de acumulado
Para mim a mais bonita

Aproveitei os momentos antes da partida para trocar o pneu de trás, escolhi fazer uma alteração ao que trazia até aqui e montei um 1,95 que se mostrou ser mais indicado para as etapas que estavam para vir.
A partida foi rápida e rolei a boa velocidade até à base de Monsanto com alguns troços em mata com muita sombra. Aqui esperava-nos uma boa calçada romana que nos levaria até ao cimo da aldeia mais portuguesa de Portugal. A calçada parece que inclina mais a cada curva. Depois começamos a descer, também em calçada romana, em direcção ao vale de Idanha-a-Velha, não sem antes percorrermos uns pequenos montes com tendência de descida e alguns singletracks que se cruzam e nos levam até à aldeia. Por esta altura o Cal Burgart tinha embatido com um arame atravessado no meio do trilho e que pelos vistos servia de portão. Como passou primeiro, deixou-o sinalizado para que o mesmo não ocorresse com mais ninguém. Uns Kms mais à frente nova subida, desta vez em calçada medieval, que nos levou até Idanha-a-Nova (mais um bom empeno). Depois foi só seguir até ao final da etapa em Ladoeiro. Depois da paragem obrigatória na tenda, a piscina do Hotel já estava a nossa espera.

6ª Etapa – Ladoeiro – Castelo de Vide - 108 Km – 2371 mts de acumulado
A etapa do Tejo

Mais uma saída rápida, pelo menos até entrar-mos numa zona onde o areão teimava em não deixar as rodas saírem do mesmo sitio. E assim seguimos até às proximidades de Lentiscais, uma aldeia onde a carroça puxada por burros ainda é um grande meio de transporte. De seguida entramos numa zona de algum sobe e desce até Perais e depois até Vila Velha de Rodão. Neste local onde fazemos a travessia do Rio Tejo (por ponte) parei para reabastecer e comer com calma. Segue-se um trilho bem ao lado do Rio Tejo (mais uma grande vista) que após uma subida nos deixa em Salavessa a que se segue mais uma boa oportunidade para desmontar e esticar as pernas, num singletrack bem inclinado e a subir. Para a história da etapa fica ainda a subida final para Castelo de Vide, mais uma calçada medieval que no seu final tem uns degraus que nos levam a atravessar a muralha e nos deixavam junto à linha de chegada.

7ª Etapa – Castelo de Vide – Campo Maior - 85 Km – 2033 mts de acumulado
As ultimas serras antes das planícies Alentejanas

Uma etapa que fica marcada pelas três subidas – Urra; Marvão e S. Mamede.

Ainda nos estamos a refazer da Serra da Urra e já estamos a subir de novo em direcção a Marvão, a subida tem uma boa parte em calçada que termina nuns valentes degraus que tem que ser feitos à mão. Depois de uma volta turistica pelo centro da vila sempre dentro do castelo, saímos de novo para mais uma calçada medieval embora desta vez seja a descer, nem por isso se torna mais fácil pois os valentes cotovelos com degraus obrigam a descer com cuidado. De contar ainda que no final da descida apanhei um grupo grande a tratar de mais um problema com o cabo de mudanças do Luis Rangel (estavam lá o 3º e 4º lugar – mais uma vez o fair play em evidencia). Não precisei de parar pois já estava resolvido. De contar ainda a subida a S. Mamede primeiro por estrada e no final no meio de alguma pedra solta. Depois a descida rápida pelo meio do eucaliptal. E infelizmente o final da etapa teve que ser feito em grande parte por alcatrão para evitar os inúmeros portões que existem pelos trilhos da região. O final bem no centro de Campo Maior, onde a rádio local teve curiosidade em saber o que se passava. E depois mais um mergulho na piscina do hotel.

8ª Etapa – Campo Maior – Monsaraz - 109 Km – 1993 mts de acumulado
Contacto com o Guadiana – e os cães

No briefing da etapa fomos avisados para um problema que poderia acontecer perto do Km 20 – os cães. Ao que parece é usual nesta zona aparecerem uns quantos cães que nos obrigam a pedalar mais rápido. Todos ficamos a pensar o que faríamos aos cães para os afastar.
A minha resposta veio ao pequeno almoço. Preparei um belíssimo croissant que deveria fazer as delicias dos canídeos.

A etapa começa muito rápida e assim facilmente chegamos ao local onde hipoteticamente estariam os cães, mas felizmente que dos cães nem sinal. Seguimos rápido e já perto do km 40 quando passamos pelo meio de algumas estufas, perto de Jeromenha, eis que surgem uns valentes cães, com um ar pouco amistoso. Lá foi o croissant para bem longe, e com ele os cães (a arma afinal teve utilidade). A etapa seguiu mais ou menos plana e rápida, ao lado da albufeira do Alqueva,(mais um lavar de olhos pela magnifica vista) até à subida para o Geodésico do facho, uma subida curta mas com alguma pedra solta. Até ao final ainda de salientar que fui atacado por enxame de vespas que me deixaram a perna e o braço esquerdo um pouco mal tratados. E a chegada a Monsaraz é precedida de mais uma boa calçada medieval que nos leva até ao castelo e à tenda onde tenho mesmo que colocar gelo na perna na zona das ferroadas.

9ª Etapa – Monsaraz – Castro Verde - 161 Km – 2245 mts de acumulado
A mais longa

O dia prometia, 161 Kms feitos no coração da Planície Alentejana com promessas de subidas de temperatura.

Embora a etapa seja muito longa é sem duvida a mais rápida. A saída de Monsaraz é feita fora de estrada, mas rapidamente somos obrigados a “comer” alguns Kms de alcatrão (culpa da albufeira do Alqueva). Voltamos a seguir rapido e junto de Santo Amador vejo algo que me parece irreal, uma estrada em alcatrão que termina na margem do rio e que que recomeça na outra margem (estamos a falar de cerca de 5 metros de distancia entre margens). Seguimos sempre rápido pela maior quinta do país (a Quinta dos Machados) e perto do km 90 a organização faz uma neutralização. Um pouco mais à frente era preciso atravessar o Guadiana mas a abertura das comportas do Alqueva tinha tornado esse ponto intransponível. Durante os 70 Kms que faltavam tempo ainda para passar por Salvada; Cabeça Gorda; Trindade; Albernoa e Entradas. Depois de Entradas os ultimos 14 Kms tornam-se muito maçadores pela quantidade de portões que se tem de abrir e fechar (é importante passar sempre para o outro lado) e voltar a seguir caminho. De repente ao fundo lá aparece Castro Verde, seguimos os últimos 6 km sempre com a vila à vista. E à chegada de um dia tão duro (muitos Kms e muito calor) lá estava a tenda com o reforço bem na sombra das arcadas do hotel.

10ª Etapa – Castro Verde – Rogil - 124 Km – 2552 mts de acumulado
A mais dura

Depois de se fazer 160 Km pode parecer que 124 Km serão bem mais fáceis. Mentira. O que estava reservado para a penúltima etapa era só o mais difícil da TransPortugal. Pela extensão; pelo acumulado de subidas e pelo cansaço acumulado ao longo dos últimos 9 dias.

A etapa tinha ainda como atractivo o facto de deixarmos a planície Alentejana e entrarmos na Serraria Algarvia (hoje já não sei o que é melhor).

A saída é rápida até perto da Aldeia das Amoreiras onde deixamos a planície e entramos no sobe desce primeiro com duas subidas com alguma sombra que depois descem para nos guiarem até à Barragem de Corte Brique. Onde devido à seca o nível da água é tão baixo que os barcos estão atracados no meio do pó. Voltamos a seguir em sobe e desce até Santa Clara onde paramos para abastecer numa fonte bem escondida no meio de uma horta e com uma zona de sombra fantástica, e água bem fresca encheu-nos os Camelbak, e deu direito a um bom banho refrescante. Depois da subida que nos faz deixar Sta. Clara, seguimos mais uma vez em terreno um pouco mais fácil até às imediações de Vale Touriz, mais um pouco de sobe e desce e chegada ao Vale Porco (onde mais uma vez a organização tinha colocado um ponto de água sem penalização) e começa a preparação para a subida do dia. – Portela da Brejeira – subida no meio de Eucaliptal que só tens duas variações 1º muito inclinado com bom piso (lá fomos a morder o guiador) e 2º um pouco menos inclinado com mau piso. A meio da subida olho para o Polar e o coração não passava dos 136 Bpm (eu bem que queria mais) parei encostei a cabeça ao guiador e dormi um pouco. Quando arranquei já conseguia ir até aos 150 Bpm. E quando pensamos que a subida já acabou e que vamos largar o Eucaliptal eis que começa o sobe e desce no cimo da serra (com uma vista fantástica, mas que na altura não tem muita importância) e quando já estavamos fartos de Eucaliptos eis que começa a descida em direcção a Zambujeira de Baixo. O Genuíno Madruga ainda teve tempo para umas cambalhotas por cima de um Eucalipto, “quando seguia a 120”, como ele dizia. Felizmente ficou-se só por uns quantos arranhões espalhados pelo corpo. Mais uma vez imperou o fair play e o Henrique Soudo, que discutia o 8º Lugar, parou para ajudar. E de seguida a ultima dificuldade do dia a curta subida (900 mts) que nos deixa muito perto do final. Depois era só rolar mais um pouco até ao Rogil e ao final da etapa.

11ª Etapa – Rogil – Sagres - 69 Km – 1298 mts de acumulado
O epílogo – O mergulho no mar após 11 dias

É verdade só faltavam perto de 70 Km para a aventura chegar ao fim. Era dia de seguir com calma e levar as pernas e a bicicleta até Sagres. As posições já estavam quase todas definidas e o lema era aproveitar o ultimo dia.

Mais uma vez começou rápido e após a subida em paralelo para o Castelo de Aljezur comecei a sentir o cheiro do mar (sinónimo que já estava mais perto do fim). A seguir a Aljezur seguimos a direito até à arriba de onde se avista a Carrapateira. E lá estava o mar (mais uma vista tipo postal ilustrado). Depois de sair da Carrapateira mais um pouco de estradão em direcção à Praia do Amado. Fazer a subida a pé (um single track muito estreito com a falésia ali ao lado) Volta a descer e volta a subir para depois se entrar numa zona de pinhal com alguma areia, que não ajuda muito à progressão. Passagem pelo Parque Aeólico Lagoa do Jardim. Descida para a Praia da Barriga e nova subida que nos leva até mais uma zona de risco, o “fio dental”, mais um single track na falésia que termina na Praia da Cordama. Resta fazer a ultima subida da TransPortugal, a proximidade do final dá-nos força extra. Depois foi só seguir quase sempre a direito, com muito vento, até Sagres onde se bem me lembro foi o único local onde apanhamos vento a favor, durante cerca de 5 kms rolamos com vento pelas costas e bem a cima dos 50 Km/h. Viragem para a Fortaleza; saída em direcção à arriba e fazer os últimos metros que nos separavam da praia. E ali estava a meta, com a tenda de reforço, bem junto à areia. Foi só o tempo de desligar o GPS e correr para a água, afinal foi para isso que saí de Bragança. Estava feito tínhamos unido Bragança a Sagres em 11 dias em bicicleta.

E assim terminávamos uma das provas mais difíceis do mundo, por vários aspectos.

Pelos Kms; pela dureza do percurso; pelo calor; e pelo numero de Kms que fazemos completamente isolados e em autonomia. Sem duvida um bom teste físico mas também um grande teste psicológico.

Agradecimentos

A toda a organização pelo espírito com que encara esta prova de esforço.
Ao António Malvar por continuar a juntar estes grupos de loucos
À Berta e à Louise por fazerem do final de etapa um sitio bem apetecível.
Ao Bruno, ao Nuno a paciência que tiveram para esperar por nós nos C.P.
Ao António Pereira ter paciência para pedalar ao meu ritmo quando foi preciso.
Ao Henrique Soudo pelas sessões de Fisioterapia que me devolveram o ombro.
E mais importante à Isabel que teve paciência para me apoiar e partilhar com um pedaço de alumínio com rodas durante os últimos meses.

Parabéns

Ao Cal Burgart, porque ganhou.
Ao Ricardo Melo, porque foi o mais rápido (6 recordes de etapas e o recorde da prova)
Ao Vit Herman, porque veio de Madrid de bicicleta
E a todos os que venceram os 1124 Kms e ganharam grandes histórias para contar.

Muito Obrigado

Nuno Machado # 50

domingo, 16 de setembro de 2007

O caminho até ao Nuno Machado #50 - 8ª Parte

ENTRE O SOFÁ E BRAGANÇA

Lá estava eu atirado para o sofá sem poder treinar e com algumas dores no ombro direito, após a fase de recuperação e das ligaduras cruzadas nas costas lá veio uma fase em que as ligaduras deram lugar a um imobilizador amovível, e assim já podia treinar na estática e se me lembro devo ter feito entre 800 a 1000 km de estática no mês de Março.

Depois veio o tempo da fisioterapia e de umas valentes sessões com quase 3 a 4 horas com o Dr. Henrique Soudo todas as Quintas Feiras e a verdade é que o meu ombro começava a dar sinais de vida e de uma rápida recuperação.

Então veio o primeiro passeio longo na Bicicleta e nada melhor do que 75 km na Serra da Estrela, o passeio da ciclonatur. Era um passeio só com 3 subidas e 3 descidas e o acumulado cerca de 2.700 mts um bom treino que me ia deixar perceber em que fase de preparação para a SuperTravessia estava.

Um passeio em que as subidas eram longas e a ultima muita dura, quanto às descidas essas eram bem boas e uma delas com uns valentes ganchos deixavam-me perceber que ainda não estava com o ombro a 100%, pois alguns dos impactos provocavam-me alguma dor. E assim lá fiz os Kms que tinha que fazer e percebi que não estava assim tão mal fisicamente.

Até ao começo da SuperTravessia ainda ia ter mais um bom teste, O PORTALEGRE 100, e lá fomos mais uma vez com a familia, a minha e a do José Carlos, para mais um teste nas terras Alentejanas. Este ano pareceu-me muito mais fácil e lá foi correndo ao sabor do pó e das companhias de ocasião, volto a encontrar o Nuno e lá vimos os dois durante alguns Kms a pedalar juntos. O José Carlos tinha decidido levar um ritmo mais lento, o que se revelou prejudicial pois ao chegar ao abastecimento dos 60 kms, já sem alimentação, foi brindado só com laranjas uma vez que já não havia mais nada. E sem conseguir comer lá teve que desistir. Eu lá aí seguindo até ao final onde cheguei em 7h 40m. (num ano tinha tirado 2 horas ao meu tempo) Fiquei satisfeito e na segunda feira lá foi ter com o António Malvar para confirmar a minha inscrição na SuperTravessia, e nesse monento o numero 50 passou a fazer parte da minha assinatura. O 50 era o meu numero para a mias mítica prova do calendário nacional de BTT. E assim será sempre que eu decidir ir até Bragança para depois descer até Sagres com a minha Bicicleta.

Depois foi só manter o esquema de treino e esperar pelo dia e que fomos para Bragança mas isso conto para a próxima.

Um abraço e pedalem muito

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

O caminho até ao Nuno Machado #50 - 7ª Parte

ENTRE SANTIAGO E O SOFÁ

Após a chegada de Santiago começou uma nova época de BTT, começavam as viagens até à Serra da Arrábida. estas Bike Trips eram fruto das propostas do Henrique e da João para que eu os acompanhasse até à outra banda para umas sessões de BTT com o Luís; o Tó e o Mário (o da Bike Zone). Grandes voltas, grandes quedas - GPS partido. Grande queda do Luís em câmara lenta num trilho em direcção à Comenda (quem se lembra vai rir de certeza), singletrack das Antenas, subir a cobra, o cai de costas, trilho dos moinhos, idas ao Cabo Espichel, muitos Km's e muita diversão

Pelo meio aparece a maratona de S. Brás de Alportel uma Maratona bem Extreme com muita subida. Antes de a ir fazer liguei ao Pedro da Associação SanBrajense a perguntar se era rompe pernas e ele lá me avisou que não era rompe pernas mas era muito duro. a prova seria ganha pelo Nélio Simão e eu ganhava mais um amigo do BTT, esse grande personagem que é o Exmo. Sr. Ludos, que foi a minha companhia nos últimos Km's daquele empeno onde a temperatura chegou a rondar os 30º e onde os 3 abastecimentos disponíveis foram mesmo muito fracos, num deles a água saía de uma mangueira para dentro de dois garrafões, e que eu me lembre a água não deve ser verde, mas o calor e a sede obrigara-nos a beber aquele liquido. ainda tempo para ver e ouvir o cumulo do grito humano, isto por um jovem que eu pensei que tivesse do caído da falésia, mas não, ele estava deitado no meio do trilho com caímbras em todos os músculos que se possa imaginar. esperamos pelo jipe dos bombeiros e lá foi ele deitado de costas com as pernas a 90 graus.

Decido que para começar a preparar a SuperTravessia preciso de ter um esquema de treinos mais completo e pensado por alguém que perceba mais de bicicletas do que eu. Chego até ao Site do Vítor Gamito e começamos a preparar em conjunto o meu esquema para estar mais preparado quando chegar a Super. Começamos com a fase de preparação, com algumas horas, frequências cardíacas baixas muita rotação e lá aparece a minha segunda bicicleta - uma kettler estática capaz de me pôr a treinar com chuva e durante a noite. Uma vez que os dias já começavam a ficar bem mais curtos.

Pelo meio lá chega mais uma clássica - o primeiro G100 - E mais uma vez lá arrancamos de madrugada, eu e o José Carlos, para irmos fazer o gosto ao pé na pacata Grândola - Vila Morena. Ocasião para rever o Ludos e fazer os últimos 50 Km na companhia de uma Trek Azul. Foi uma prova bem gira com muita paisagem diferente, as boas subidas, uns bons Singletracks e boas descidas, os excelentes pasteis de nata e óptimos Ice tea de cada abastecimento. E um record fazia os 100 km em pouco mais de 7h 30m. Os treinos estavam a dar resultado.

Volta a Lisboa e às voltas de Sintra, Arrábida, Monsanto e às "voltas" da estática, cada bocadinho é aproveitado para melhorar a minha condição.

E no dia 16 de Janeiro a coisa ia mudar todo o esquema de treino, numa volta de treino em Sintra começo a fazer uma descida, e o gato começa a atravessar o trilho, não dá tempo para nada, só para agarrar os travões e ao bater no gato saio disparado pelo ar, tiro o brevet pelo caminho até que ao aterrar oiço a clavícula a estalar. Já estava não havia mais nada a fazer. Foi o tempo de ligar ao meu Irmão que veio buscar para ir ao Hospital e ficar completamente enfaixado até ao mês de Março. Já não me recordo de ler tantos livros em tão pouco tempo.
Aliás o tempo passou foi a ser muito.
De repente estava mais longe da Super Travessia e mais longe de ser Nuno Machado #50

Mas estava muito mais intimo do meu sofá

Um abraço e pedalem muito

domingo, 2 de setembro de 2007

XURÊS OU GERÊS, MAS MUITO EXTREME

Nem sei bem como hei-de começar, se por dizer que achei duro ou por dizer que acabei por fazer apenas os primeiros 62 km porque achei duro.

Aliás começo muito antes, algures a 9 de Julho telefonei ao Telmo e desafiei-o para dar-mos um salto ao Gerês e fazermos a Maratona Extreme do Gerês, claro que o convite só continha os 116 Km (pelos vistos 120 km no final), ele lá aceitou renitente e fizemos as inscrições.

No dia 31 de Agosto arrancava para o Porto para mais uma Bike Trip, combino um jantar com o João Marinho e com o José Silva - os homens do momento após o 22º lugar no Transalp e da presença no campeonato do mundo de maratona. O João eu já conhecia e o Zé conheci nessa noite. Após apurada escolha da ementa, muito por culpa das limitações alimentares e nutricionais do João e do Zé, lá começamos a comer. - O que o João e o Zé comeram eu não conto a ninguém, mas a verdade é que no dia seguinte o Zé fazia 2º e o João fazia 3º. falamos de algumas ideias que temos para 2008 e entre "Cape Epics" e outras provas mundiais lá foi correndo o nosso jantar.

Após o jantar eu e o Telmo lá seguimos para Lobios onde íamos pernoitar, não sem antes dar-mos uma grande volta uma vez que o Telmo, contentíssimo com o seu GPS, se enganou a colocar o local de destino e só na subida da Serra do Gerês lhe pergunto, qual o sitio de destino e ele me responde que tinha colocado um restaurante. Lá chegamos com o carro com as Bikes e todo o nosso material e dirigimo-nos ao controlo/secretariado. Tempo de rever um bom amigo, António Pereira e de falarmos mais um pouco antes de irmos para o Hotel.
Ao montarmos as Bikes no Hotel reparo (era impossível não reparar) num barulho que o disco da frente faz quando a roda rodava. A pouca luz no exterior do Hotel obriga-me a tentar descobrir o que é na manhã seguinte.

Após ter dormido 3 horas lá consigo descobrir o que tem o disco e resolvo a situação. O disco tocava na bomba do travão e tive que colocar umas anilhas mais altas para fazer a bomba subir. Algo que já podia ter descoberto não fosse o facto de não pegar na Bike à perto de 20 dias.

E lá fomos para a partida. No briefing o Ramiro ia dizendo que os primeiros 60 Km eram os mais fáceis e que depois é que começavam as dificuldades.

Assim comecei com calma pois o inicio era logo com 7Km de subida para aquecer as pernas, e a partir daqui foi um constante de sobe; sobe; sobe; desce; sobe; sobe; sobe; desce, não dando lugar a grandes descansos. De facto as subidas obrigavam a pedalar com muita energia e as descidas obrigavam a atenção redobrada uma vez que algumas delas tinham alguma componente técnica "como nós gostamos". E lá fomos avançando por entre barragens, bosques, calçadas a descer e a subir, muito calhau, alguma água, tempo para ouvir umas travagens mais bruscas atrás de mim. E lá chega o primeiro abastecimento. Tempo para retemperar. E após o arranque acontece algo de muito estranho acontece sinto uma picada por trás do joelho direito (algo muscular) continuo a pensar que passava mas volta a doer e no inicio da subida que nos levava até aos 40 Kms começo a defender-me e a baixar o ritmo. Mas a verdade é que andar a baixo do meu ritmo normal começa a massar, pelo excesso de rotação que tenho de fazer (já vinha em "talega pequenina") e volto ao meu ritmo,imponho mais força e passado um bocado estou sem água, começam as caimbras e tomo a decisão que tenho que abandonar aos 62 Km.

Um pouco mais à frente o Telmo apanha-me e fica surpreso, seguimos juntos ele a animar-me e a tentar levar-me para os 80, mas a minha decisão estava tomada. Lá fomos desfrutando das belas paisagens em ritmo de passeio, somos alcançados pelo Ricardo e pelo Francisco (dois Portugueses que já fizeram o Cape Epic) que se tinham perdido e lá viemos juntos até ao final 62 Km e quase 6 horas depois de termos começado.

Após o banho tempo para rever mais uns amigos da Super Travessia e lá ficamos em conversa até à cerimónia do podium.

Em termos de conclusão acho que os trilhos eram bons e bem marcados (nalgumas viragens as placas podiam ser maiores), todos sabíamos que era extreme por isso tinha de ser dura, mas talvez colocasse mais algumas Zonas de Abastecimento com: mais fruta; bebidas isotónicas, e outro tipo de barra. - Mas isto transmiti à organização e para o ano vou lá conferir se responderam aos meus caprichos.

Quanto a mim fiquei a perceber que até ao Epic vou ter que treinar com muita cabeça.

Um abraço e pedalem muito