domingo, 23 de setembro de 2007

Já era o Nuno Machado # 50 - TransPortugal 2005

TransPortugal 2005

Quando no final de Setembro de 2004 (em plena realização do Caminho de Santiago) me comprometi a realizar a Supertravessia em 2005 não me passava sequer pela cabeça no que me estava a meter. Embora alguém me alertasse para o que estava para vir, que grosso modo se resume a 11 dias passados ou em cima ou muito perto da bicicleta, fazendo perto de 1200 Kms e cerca de 23.000 mts de acumulado de subida, sempre guiado pelo GPS. Isto só para unir Bragança e Sagres.

A Preparação

A preparação não podia esperar era preciso começar um “esquema” que me permitisse estar apto a passar muito tempo, por dia, em cima da bicicleta e durante muitos dias. Para tal contei com a preciosa ajuda do Vitor Gamito e do seu sistema de treino. Definimos dias e tempo de treino e objectivos intermédios que iriam servir para balizar a minha evolução. Todo o esquema caiu por terra pois, em Janeiro, uma valente queda e uma fractura de clavícula colocaram-me no sofá durante 11 semanas. Volta aos treinos só a meio de Abril. Os treinos então ficaram mais intensos (por vezes bi-diários) para voltar a criar massa muscular e endurance. Feitas as contas faltavam cerca de dois meses para o inicio da aventura.

A Partida para Bragança

Antes do arranque ainda passamos no Aeroporto para apanhar dois participantes vindos dos EUA (Genuíno Madruga e Cal Burgart), com o Genuíno tudo bem mas com o Cal as coisas não corriam pelo melhor, entre problemas de voos, e atrasos no embarque em Paris, eis que a sua bagagem inclusive a bicicleta, não chegam a Lisboa. (acabariam por chegar no dia seguinte a tempo de o Cal seguir para Bragança e alinhar à partida)

A Adaptação

No dia anterior ao da partida fomos fazer uma curta adaptação à primeira etapa, entrar em montesinho e sentir o calor transmontano (40º C às 12h). Deu logo para perceber que ia ser muito duro e que hidratar seria palavra de ordem ao longo dos 11 dias. Neste dia ficamos ainda a conhecer o Checo Vit Herman que após ter aterrado em Madrid montou a bicicleta e veio a pedalar até Bragança, demorando 3 dias a percorrer a distância.
Tempo ainda para os últimos acertos nas máquinas, primeiro briefing (acto que se viria a tornar solene nos próximos dias), distribuição dos números e ultimas duvidas.

Dia D
1ª Etapa – Bragança – Sendim – 108 Km – 2750 mts de acumulado
Uma das mais duras

Felizmente as previsões apontavam para uma descida da temperatura de cerca de 5º C (35º já é mais aceitável do que os 40º do dia anterior).

Após o pequeno almoço começa a azáfama da partida, verificar pneus pela ultima vez, ver suspensões, lubrificar corrente, limpar algumas peças vitais, tudo serve para esconder ou enganar algum do nervosismo que se instala nestas alturas.

10 horas, partida para a Supertravessia 2005 (alguns já tinham partido fruto da bonificação por idade). Os primeiros Kms conduzem-nos até Montesinho, para começar-mos a subir quase 15 kms. Depois um sobe e desce constante, e no final de cada descida lá encontrava-mos o Rio Maçãs. Chegada a Quintanilha. Paragem para reabastecer de água e comer uma barra (água, barras e gel, a grande companhia durante todas as etapas). Até aqui já me tinha cruzado com participantes a arranjar alguns furos. Eu acabei por furar na subida da Senhora da Ribeira, mas decidi não fazer nada e deixar o Magic Seal actuar (decisão que se veio a revelar benéfica para a conclusão da etapa). De facto o Magic Seal actuou e segui de novo entre sobe e desce até Vimioso onde voltei a reabastecer de água. De seguida vinha a subida do dia que nos leva até Caçarelhos. Como alguém diria é uma subida em que se vai a morder o guiador, e tudo após cerca de 90km a pedalar ao sol. Depois de terminada a subida chega a ultima parte da etapa. Nesta fase eu pensava ganhar algum tempo pois a chegada a Sendim é rápida, mas o cansaço e vento sul (contra) fizeram com que o final não corresse como tinha planeado.
Assim o excesso de zelo (tentar sempre controlar a fadiga) quase me fizeram chegar após o fecho do controlo (salvo por 1m 27 s). No final lá estava o prémio diário, a tenda da Ciclonatur com o repasto de frutas, sumos e demais alimentos que a Berta e a Louise nos preparam, e que se tornou um clássico dos finais de etapas. Onde nos encontrava-mos e partilhava-mos as experiências de cada dia.

2ª Etapa – Sendim – Freixo de Espada à Cinta - 67 Km – 1581 mts de acumulado
Primeiro Contacto com o Douro – Etapa das Aldeias

Depois de uma primeira etapa dura a 2ª parecia bem mais fácil quer em numero de Km quer em desnível acumulado, como tal a dificuldade de hoje era o fecho do controlo (que ditava um tempo máximo de conclusão da etapa em 5h 30m).
No entanto era dia de ver o Rio Douro e de passar por um sem numero de aldeias ao longo dos 67 Kms que nos separavam de Freixo de Espada à Cinta.
O inicio da etapa é muito rápido e leva-nos em estradão largo até Bemposta para a primeira dificuldade do dia uma calçada romana (uma óptima oportunidade para desmontar e esticar as pernas) que nos leva até Lamoso, seguida de uma descida até ao rio. Nova subida a pé chegada a Algosinho para depois se seguir rapidamente para Ventoselo; Vilarinho dos Galegos, fazer a subida (esta montado) até Bruçó. – Paragem para reabastecer e comer. Entrar de novo numa zona rápida por entre lages e alguns degraus em direcção a Lagoaça, seguir para Fornos e após alguns Kms sermos brindados com a vista do vale do Douro e assim seguimos com o Douro como companhia durante a descida para Mazouco. E finalmente seguir para Freixo de Espada a Cinta onde estava a linha de meta, mas claro ainda faltava subir os 200 mts de calçada até ao Castelo. E assim chegamos à tenda do nosso contentamento.

3ª Etapa – Freixo de Espada à Cinta – Alfaiates - 122 Km – 2355 mts de acumulado
A Etapa do Douro

A saída de Freixo não dá para aquecer nem para pensar muito, pois começa logo a subir em direcção ao Penedo Durão (de onde se volta a ter vista privilegiada sobre o Douro). Aqui sou brindado pela escolta de um abutre que me acompanha, a menos de 10 metros, durante o tempo em que sigo no cimo do penedo (que imagem!!). Depois a descida para Poiares e de seguida um single track fabuloso, cheio de pedras e muitos degraus, ganchos e sempre com a falésia ali ao lado. Depois seguir ao lado do Douro até Barca d’Alva e depois de cruzar o rio seguir para a subida do dia perto de 15 Km até Figueira de Castelo Rodrigo e para terminar a dificuldade fazer a rampa (com perto de 15% de inclinação) que nos faz chegar a Castelo Rodrigo. Paragem para reabastecer e comer (descubro que o gelo é um grande aliado dos líquidos no Camel Bak). Faltavam perto de 72 Km para o final e o facto de serem mais a direito não implicava que fossem mais fáceis pois bastava que o vento estivesse sul para infernizar este final. E de facto estava vento sul, felizmente não muito quente. Na descida após Castelo Rodrigo o Sérgio foi atingido por uma águia que levantou voo atrás de um arbusto. – Como ele disse “una aguila con patas amarillas, como en las peliculas.”. Passagem pelo interior de Almeida sempre junto à muralha, e depois fazer os Kms finais em estradão largo à velocidade que o vento permitia. E claro está que na chegada a Alfaites tivemos ainda que subir para a linha de meta e para a tenda.
Esta etapa fica ainda marcada pelo facto de o Ricardo Melo que lutava pelo 1º lugar ter parado para ajudar o Luis Rangel (7º) num problema com a corrente. Um exemplo do desportivismo que impera na TransPortugal.

4ª Etapa – Alfaiates – Monfortinho - 85 Km – 1800 mts de acumulado
A Etapa da Malcata

A saída para o 4º dia também começa logo em subida pelo meio de uma mata de castanheiros que nos leva até ao ponto mais alto de toda a TransPortugal (1.100 m de altitude) a serra do Homem de Pedra que depois desce em direcção à aldeia de Fóios. Esta aldeia tem a particularidade de ser o ultimo ponto de água potável até ao final (a mais de 70 Km), como tal a organização decidiu criar um ponto de abastecimento, sem penalização, perto do Km 45. A entrada na Malcata (onde os linces já não aparecem) coloca-nos num local bem longe de tudo com muita pedra à mistura o que leva a que alguns furem por mais que uma vez, e depois de ter que parar para encher o pneu de trás decido que no final da etapa mudo de pneu. Dentro da Malcata o sobe e desce é constante com descidas rápidas no meio de muita pedra e que nos levam até um eucaliptal, onde se torna penoso andar de bicicleta pelo pó que se levanta e pela pedra escondida. Após o abastecimento entramos numa zona mais rápida que nos leva até uma reserva de caça (javalis e veados) onde pudemos entrar e que nos faz subir até à Barroca do Guez entre Serras. De seguida entramos numa descida larga mas de mau piso com muitos buracos e muita pedra a espreitar nos buracos (ainda não sei como não caí num deles). Depois chegamos ao Rio Erges que atravessamos para o lado de Espanha onde seguimos sempre junto à margem do rio para mesmo no final o termos de atravessar com a bicicleta às costas e água pelo joelho em direcção às termas de Monfortinho onde estava o final da etapa...
...e a tenda.





5ª Etapa – Monfortinho – Ladoeiro - 86 Km – 1973 mts de acumulado
Para mim a mais bonita

Aproveitei os momentos antes da partida para trocar o pneu de trás, escolhi fazer uma alteração ao que trazia até aqui e montei um 1,95 que se mostrou ser mais indicado para as etapas que estavam para vir.
A partida foi rápida e rolei a boa velocidade até à base de Monsanto com alguns troços em mata com muita sombra. Aqui esperava-nos uma boa calçada romana que nos levaria até ao cimo da aldeia mais portuguesa de Portugal. A calçada parece que inclina mais a cada curva. Depois começamos a descer, também em calçada romana, em direcção ao vale de Idanha-a-Velha, não sem antes percorrermos uns pequenos montes com tendência de descida e alguns singletracks que se cruzam e nos levam até à aldeia. Por esta altura o Cal Burgart tinha embatido com um arame atravessado no meio do trilho e que pelos vistos servia de portão. Como passou primeiro, deixou-o sinalizado para que o mesmo não ocorresse com mais ninguém. Uns Kms mais à frente nova subida, desta vez em calçada medieval, que nos levou até Idanha-a-Nova (mais um bom empeno). Depois foi só seguir até ao final da etapa em Ladoeiro. Depois da paragem obrigatória na tenda, a piscina do Hotel já estava a nossa espera.

6ª Etapa – Ladoeiro – Castelo de Vide - 108 Km – 2371 mts de acumulado
A etapa do Tejo

Mais uma saída rápida, pelo menos até entrar-mos numa zona onde o areão teimava em não deixar as rodas saírem do mesmo sitio. E assim seguimos até às proximidades de Lentiscais, uma aldeia onde a carroça puxada por burros ainda é um grande meio de transporte. De seguida entramos numa zona de algum sobe e desce até Perais e depois até Vila Velha de Rodão. Neste local onde fazemos a travessia do Rio Tejo (por ponte) parei para reabastecer e comer com calma. Segue-se um trilho bem ao lado do Rio Tejo (mais uma grande vista) que após uma subida nos deixa em Salavessa a que se segue mais uma boa oportunidade para desmontar e esticar as pernas, num singletrack bem inclinado e a subir. Para a história da etapa fica ainda a subida final para Castelo de Vide, mais uma calçada medieval que no seu final tem uns degraus que nos levam a atravessar a muralha e nos deixavam junto à linha de chegada.

7ª Etapa – Castelo de Vide – Campo Maior - 85 Km – 2033 mts de acumulado
As ultimas serras antes das planícies Alentejanas

Uma etapa que fica marcada pelas três subidas – Urra; Marvão e S. Mamede.

Ainda nos estamos a refazer da Serra da Urra e já estamos a subir de novo em direcção a Marvão, a subida tem uma boa parte em calçada que termina nuns valentes degraus que tem que ser feitos à mão. Depois de uma volta turistica pelo centro da vila sempre dentro do castelo, saímos de novo para mais uma calçada medieval embora desta vez seja a descer, nem por isso se torna mais fácil pois os valentes cotovelos com degraus obrigam a descer com cuidado. De contar ainda que no final da descida apanhei um grupo grande a tratar de mais um problema com o cabo de mudanças do Luis Rangel (estavam lá o 3º e 4º lugar – mais uma vez o fair play em evidencia). Não precisei de parar pois já estava resolvido. De contar ainda a subida a S. Mamede primeiro por estrada e no final no meio de alguma pedra solta. Depois a descida rápida pelo meio do eucaliptal. E infelizmente o final da etapa teve que ser feito em grande parte por alcatrão para evitar os inúmeros portões que existem pelos trilhos da região. O final bem no centro de Campo Maior, onde a rádio local teve curiosidade em saber o que se passava. E depois mais um mergulho na piscina do hotel.

8ª Etapa – Campo Maior – Monsaraz - 109 Km – 1993 mts de acumulado
Contacto com o Guadiana – e os cães

No briefing da etapa fomos avisados para um problema que poderia acontecer perto do Km 20 – os cães. Ao que parece é usual nesta zona aparecerem uns quantos cães que nos obrigam a pedalar mais rápido. Todos ficamos a pensar o que faríamos aos cães para os afastar.
A minha resposta veio ao pequeno almoço. Preparei um belíssimo croissant que deveria fazer as delicias dos canídeos.

A etapa começa muito rápida e assim facilmente chegamos ao local onde hipoteticamente estariam os cães, mas felizmente que dos cães nem sinal. Seguimos rápido e já perto do km 40 quando passamos pelo meio de algumas estufas, perto de Jeromenha, eis que surgem uns valentes cães, com um ar pouco amistoso. Lá foi o croissant para bem longe, e com ele os cães (a arma afinal teve utilidade). A etapa seguiu mais ou menos plana e rápida, ao lado da albufeira do Alqueva,(mais um lavar de olhos pela magnifica vista) até à subida para o Geodésico do facho, uma subida curta mas com alguma pedra solta. Até ao final ainda de salientar que fui atacado por enxame de vespas que me deixaram a perna e o braço esquerdo um pouco mal tratados. E a chegada a Monsaraz é precedida de mais uma boa calçada medieval que nos leva até ao castelo e à tenda onde tenho mesmo que colocar gelo na perna na zona das ferroadas.

9ª Etapa – Monsaraz – Castro Verde - 161 Km – 2245 mts de acumulado
A mais longa

O dia prometia, 161 Kms feitos no coração da Planície Alentejana com promessas de subidas de temperatura.

Embora a etapa seja muito longa é sem duvida a mais rápida. A saída de Monsaraz é feita fora de estrada, mas rapidamente somos obrigados a “comer” alguns Kms de alcatrão (culpa da albufeira do Alqueva). Voltamos a seguir rapido e junto de Santo Amador vejo algo que me parece irreal, uma estrada em alcatrão que termina na margem do rio e que que recomeça na outra margem (estamos a falar de cerca de 5 metros de distancia entre margens). Seguimos sempre rápido pela maior quinta do país (a Quinta dos Machados) e perto do km 90 a organização faz uma neutralização. Um pouco mais à frente era preciso atravessar o Guadiana mas a abertura das comportas do Alqueva tinha tornado esse ponto intransponível. Durante os 70 Kms que faltavam tempo ainda para passar por Salvada; Cabeça Gorda; Trindade; Albernoa e Entradas. Depois de Entradas os ultimos 14 Kms tornam-se muito maçadores pela quantidade de portões que se tem de abrir e fechar (é importante passar sempre para o outro lado) e voltar a seguir caminho. De repente ao fundo lá aparece Castro Verde, seguimos os últimos 6 km sempre com a vila à vista. E à chegada de um dia tão duro (muitos Kms e muito calor) lá estava a tenda com o reforço bem na sombra das arcadas do hotel.

10ª Etapa – Castro Verde – Rogil - 124 Km – 2552 mts de acumulado
A mais dura

Depois de se fazer 160 Km pode parecer que 124 Km serão bem mais fáceis. Mentira. O que estava reservado para a penúltima etapa era só o mais difícil da TransPortugal. Pela extensão; pelo acumulado de subidas e pelo cansaço acumulado ao longo dos últimos 9 dias.

A etapa tinha ainda como atractivo o facto de deixarmos a planície Alentejana e entrarmos na Serraria Algarvia (hoje já não sei o que é melhor).

A saída é rápida até perto da Aldeia das Amoreiras onde deixamos a planície e entramos no sobe desce primeiro com duas subidas com alguma sombra que depois descem para nos guiarem até à Barragem de Corte Brique. Onde devido à seca o nível da água é tão baixo que os barcos estão atracados no meio do pó. Voltamos a seguir em sobe e desce até Santa Clara onde paramos para abastecer numa fonte bem escondida no meio de uma horta e com uma zona de sombra fantástica, e água bem fresca encheu-nos os Camelbak, e deu direito a um bom banho refrescante. Depois da subida que nos faz deixar Sta. Clara, seguimos mais uma vez em terreno um pouco mais fácil até às imediações de Vale Touriz, mais um pouco de sobe e desce e chegada ao Vale Porco (onde mais uma vez a organização tinha colocado um ponto de água sem penalização) e começa a preparação para a subida do dia. – Portela da Brejeira – subida no meio de Eucaliptal que só tens duas variações 1º muito inclinado com bom piso (lá fomos a morder o guiador) e 2º um pouco menos inclinado com mau piso. A meio da subida olho para o Polar e o coração não passava dos 136 Bpm (eu bem que queria mais) parei encostei a cabeça ao guiador e dormi um pouco. Quando arranquei já conseguia ir até aos 150 Bpm. E quando pensamos que a subida já acabou e que vamos largar o Eucaliptal eis que começa o sobe e desce no cimo da serra (com uma vista fantástica, mas que na altura não tem muita importância) e quando já estavamos fartos de Eucaliptos eis que começa a descida em direcção a Zambujeira de Baixo. O Genuíno Madruga ainda teve tempo para umas cambalhotas por cima de um Eucalipto, “quando seguia a 120”, como ele dizia. Felizmente ficou-se só por uns quantos arranhões espalhados pelo corpo. Mais uma vez imperou o fair play e o Henrique Soudo, que discutia o 8º Lugar, parou para ajudar. E de seguida a ultima dificuldade do dia a curta subida (900 mts) que nos deixa muito perto do final. Depois era só rolar mais um pouco até ao Rogil e ao final da etapa.

11ª Etapa – Rogil – Sagres - 69 Km – 1298 mts de acumulado
O epílogo – O mergulho no mar após 11 dias

É verdade só faltavam perto de 70 Km para a aventura chegar ao fim. Era dia de seguir com calma e levar as pernas e a bicicleta até Sagres. As posições já estavam quase todas definidas e o lema era aproveitar o ultimo dia.

Mais uma vez começou rápido e após a subida em paralelo para o Castelo de Aljezur comecei a sentir o cheiro do mar (sinónimo que já estava mais perto do fim). A seguir a Aljezur seguimos a direito até à arriba de onde se avista a Carrapateira. E lá estava o mar (mais uma vista tipo postal ilustrado). Depois de sair da Carrapateira mais um pouco de estradão em direcção à Praia do Amado. Fazer a subida a pé (um single track muito estreito com a falésia ali ao lado) Volta a descer e volta a subir para depois se entrar numa zona de pinhal com alguma areia, que não ajuda muito à progressão. Passagem pelo Parque Aeólico Lagoa do Jardim. Descida para a Praia da Barriga e nova subida que nos leva até mais uma zona de risco, o “fio dental”, mais um single track na falésia que termina na Praia da Cordama. Resta fazer a ultima subida da TransPortugal, a proximidade do final dá-nos força extra. Depois foi só seguir quase sempre a direito, com muito vento, até Sagres onde se bem me lembro foi o único local onde apanhamos vento a favor, durante cerca de 5 kms rolamos com vento pelas costas e bem a cima dos 50 Km/h. Viragem para a Fortaleza; saída em direcção à arriba e fazer os últimos metros que nos separavam da praia. E ali estava a meta, com a tenda de reforço, bem junto à areia. Foi só o tempo de desligar o GPS e correr para a água, afinal foi para isso que saí de Bragança. Estava feito tínhamos unido Bragança a Sagres em 11 dias em bicicleta.

E assim terminávamos uma das provas mais difíceis do mundo, por vários aspectos.

Pelos Kms; pela dureza do percurso; pelo calor; e pelo numero de Kms que fazemos completamente isolados e em autonomia. Sem duvida um bom teste físico mas também um grande teste psicológico.

Agradecimentos

A toda a organização pelo espírito com que encara esta prova de esforço.
Ao António Malvar por continuar a juntar estes grupos de loucos
À Berta e à Louise por fazerem do final de etapa um sitio bem apetecível.
Ao Bruno, ao Nuno a paciência que tiveram para esperar por nós nos C.P.
Ao António Pereira ter paciência para pedalar ao meu ritmo quando foi preciso.
Ao Henrique Soudo pelas sessões de Fisioterapia que me devolveram o ombro.
E mais importante à Isabel que teve paciência para me apoiar e partilhar com um pedaço de alumínio com rodas durante os últimos meses.

Parabéns

Ao Cal Burgart, porque ganhou.
Ao Ricardo Melo, porque foi o mais rápido (6 recordes de etapas e o recorde da prova)
Ao Vit Herman, porque veio de Madrid de bicicleta
E a todos os que venceram os 1124 Kms e ganharam grandes histórias para contar.

Muito Obrigado

Nuno Machado # 50

8 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns por tanto entusiasmo.
Sinto-me tentada a trocar as botas de caminhada por uma bike, mas por enquanto falta-me a coragem.

Nuno Filipe Machado disse...

o melhor do mundo é nunca precisar de trocar. Comprar a Bike e manter as botas. A bike permite é fazer "caminhadas" mais longas.

Se eu puder ajudar diga.

Um abraço
NM

Anónimo disse...

Obrigada pela disponibilidade.
Um abraço
Mica

Nuno Filipe Machado disse...

Já temos a Bike? Ou seguimos só com as botas?

NM#50

Anónimo disse...

Olá!
Por enquanto, fico pelas botas.
Talvez um dia tenha um empurrão, para a Bike e pela leitura do blog , que descobri por acaso.
Mica

Nuno Filipe Machado disse...

As histórias seguem, e a bike já veio?

Anónimo disse...

Tu és um puto cagão e quem não te veja atrapalhado nos trilhos até pensa que és um rider de renome mundial!... Conta também aquelas partes em que desmontas e andas com a bike às costas cada vez que que te aparece um buraco ou uma pedra pela frente e obrigas toda a gente a desmontar porque ficas no meio do trilho a empatar. E diz também à malta que a descer parece que vais estacionar a tua SCOTT maravilha. Por último, e já que gostas tanto de escrever, tens que aprender primeiro algumas elementares regras da gramática portuguesa. E não te esqueças que há "à" com e sem "h". Se a vaidade matasse estavas tramado... Curte xutos, cresce e ganha juízo.

Nuno Filipe Machado disse...

De facto estou "preocupado" com esta mensagem vinda de um anónimo, que pelos vistos me conhece, pois sabe que não desço tão rápido como gostaria, mas desço como posso. E acima de tudo divirto-me e muito. Quanto a rider de renome mundial não sou nem pretendo ser. Para a próxima que vieres andar comigo e não quiseres desmontar tens de conseguir andar à minha frente pois é muito normal que nos grupos maiores eu seja o ultimo a fazer a descida mesmo por causa disso, para não estorvar os que como tu são rápidos e bons a descer e sabem escrever em português. E já agora, para que percebas, o BTT para mim é um passatempo onde não tenho de provar nada a ninguém e muito menos a um anónimo. Agradeço a aula de gramática que no teu "post" todo é a única coisa que se aproveita.Curte o quiseres e se quiseres faz um blog a contar as vezes em que tiveste de desmontar por minha causa, ou as vezes que não desci, ou desci mais devagar porque achei que não conseguía.
Só para tua informação amanhã vou andar e vou-me divertir, tu é que já não pois estás mais preocupado com o que eu faço.