Castelo de Vide - Monsaraz
Nem sei muito bem, como é que vou conseguir explicar em texto o que se passou e o que senti nesse dia. Em resumo posso dizer que foram 163 km feitos em 10h30m com um acumulado de subida de mais de 3.000 mts, para apimentar e tornar a coisa mais difícil, posso ainda dizer que choveu durante os "primeiros" 120 kms.
É verdade, depois do dia anterior ter sido um pouco mais calmo e com bom tempo, a manhã do dia 5 estava impossível. Digamos que nunca tinha saído para treinar de baixo de um autentico diluvio.
Os belgas iam gozando o panorama e avisando que se sentiam em casa e claro iam aproveitar, para pedalar forte.
O início é muito bom e fácil de fazer, só estamos a falar de uma calçada romana que com a valente chuva que caía estava escorregadia a ponto de não ser possível fazer montado (falo por mim) e em pouco tempo tinha os óculos completamente embaciados, o que me obrigou a fazer o dia quase todo sem óculos. Em seguida uma descida também em calçada onde a erva não deixava ver quais a pedras que faltavam o valeu mais uma queda ao Adriano, desta vez com o inconveniente de umas costelas fissuradas, mas que não o fizeram desistir. Seguimos para mais uma boa subida onde a presença do Agnelo (a fotografar) deixa adivinhar a dificuldade da mesma. Subimps um pouco de S. Mamede e na descida, que para mim foi bem difícil (não é fácil ter miopia e andar sem óculos), acabo por descolar do Adriano que lá ia suportando a dor como podia. Na passagem pelo Alegrete vejo alguns desistentes, mas a verdade é que ainda faltavam mais de 120 Kms para o final e não convinha parar para não arrefecer.
A chuva continuava e chego-me a mais um grupo um seguem os dois Ingleses e a Carol Silvera mas o facto de estes seguirem em ritmo de poupança faz com rapidamente os deixe para trás. No entanto este grupo de novo se juntou a mim, fruto do tempo perdido para se abrir e fechar portões (mais um fenómeno do Alentejo). E seguimos em grupo até perto do Km 60 onde a Carol decide desistir, ficando apenas eu e os Ingleses na tarefa de abrir e fechar os mais de 30 portões que a etapa conta. Volto a abandonar o grupo e quando estou a chegar perto da Filomena (era a primeira vez que me cruzava com a 1ª Portuguesa a completar a TransPortugal) numa curta subida parto a corrente. Felizmente consigo voltar a por a máquina a mexer e sigo de novo com os Ingleses. E a chuva sem abrandar. Lá vamos entre sobe e desce aproveitando alguns troços de alcatrão para ganhar tempo, até que fico sem pastilhas e lá faço os últimos 50km com os travões a travar no ferro. Ainda tenho direito a duas quedas, uma delas fruto do cansaço e a outra da fruto da falta de travões. Já muito cansado e com muita fome, paro em Monte Juntos, onde deixa de chover, e aproveito para comer uma valente bifana (com mostarda) e beber uma coca-cola. Arranco de novo para os últimos 20 km volto a cruzar-me com a Filomena, mais umas palavras de incentivo ao que a Filomena responde:
- Como é que te chamas?
- Eu, sou o Nuno Machado
- Tu é que és o Nuno Machado?! Então o Tó manda-te um abraço.
E é com as boas recordações das voltas na Arrábida que sigo até ao final onde ainda sou "obrigado" a fazer a calçada medieval de Monsaraz. Nesta tenho mesmo que desmontar, por falta de força e por um enorme buraco que tem no meio, e quando penso que já acabou eis que ainda falta subir até ao largo da Igreja. Mas como é o fim a força volta e sigo montado.
Por sorte a Igreja estava fechada se não o António tinha feito com que subíssemos atá à torre para tocar o sino.
Acabo e ao mesmo tempo chega o António Malvar, que com o seu sorriso olha para mim cheio de lama e me dá os parabéns. Eu nesse dia fiquei com o Ego com mais de 3 metros, nem cabia no meu corpo. Tinha feito o meu dia mais duro em termos desportivo, espero não ter de repetir.
A parte pior foi lavar a roupa, ir jantar, fazer mecânica e ainda conseguir descansar para o dia que estava para vir que tinha quase 140 km.
Amanhã conto mais
Um abraço e pedalem muito
Nuno Machado#50
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