quinta-feira, 23 de agosto de 2007

O caminho até ao Nuno Machado #50 - 6ª Parte - CAMINHO DE SANTIAGO


O CAMINHO DE SANTIAGO

Depois de termos saído de Carnaxide e de ter conhecido os colegas de aventura, que passo a enumerar:

Henrique Soudo; Maria João; Ricardo Gomes; António Pereira; Luís Rangel; Paulo Duarte; Redinha; Carretas; Nuno e claro o António Malvar que ficaria com a missão de todos os dias deixar a carrinha na zona de chegada e depois fazer o trajecto ao contrário para vir ter com o grupo, e mais alguns que se juntaram a nós para fazer as 3 ultimas etapas; o António Topa Gomes e o Pedro Cardoso.

Então lá seguimos em direcção a Roncesvalles onde iríamos passar a Noite antes de entrarmos em França - S. Jean Pie de Port - e começarmos o caminho.


Roncesvalles é uma pequena aldeia dos Pirinéus onde fomos brindados durante toda a noite com uma verdadeira tempestade Pirineíca que fazia antever o pior para o dia seguinte.
O dia acordou bem melhor do que a noite e lá fomo brindados pelo sol enquanto seguimos até S. Jean Pie de Port, aqui tratamos de recolher de recolher a nossa credencial de peregrino, onde se recolhem os selos/carimbos dos város pontos onde vamos passando que nos permitem no final demonstrar que realizamos o caminho e que merecemos a Compostela (espécie de diploma que atesta que fizemos o Caminho de Santiago). Estávamos prontos para partir.















Roncesvalles

S. Jean Pie de Port - Acolhimento de Peregrinos
1ª Etapa - S. Jean Pie de Port - Pamplona - 73 km

E assim partimos e logo após termos passado as Portas do Sol começa a subida, bastaram 2 kms para que o Luís Rangel partisse a corrente, depois lá fomos subindo são 23 Km a subir numa paisagem completamente verde e rodeada de montes. Subimos por estrada e em cada pastagem todo o tipo de animais, cavalos, vacas, cabras. Uma subida com tudo - alcatrão, pedra, e relva.
Depois vem a descida para Roncesvalles - fomos advertidos para não fazermos o single track que serve para fazer esta ligação e lá fomos seguindo por estrada a boa velocidade e a desfazer os vários ganchos com iamos sendo presenteados. - Impressiona a quantidade de peregrinos com que nos vamos cruzando. Após a saída de Roncesvalles começa o BTT mais técnico, single tracks em pedra, pedra e muitas raízes, muitos degraus feitos com toros e bem escorregadios. (uma grande etapa de BTT se um dia me convidarem para ir fazer só esta etapa é muito provável que aceite). No entanto foi um dia em que viemos sempre com algum receio pois ficamos no meio de duas fortes trovoadas durante uma boa parte do percurso.
A chegada a Pamplona é feita pelo Casco Velho e foi só seguir até ao Hotel para descansar.
Uma coisa que senti neste primeiro dia é que de facto existe no Caminho uma energia diferente.

2ª Etapa - Pamplona - Logroño - 95 km

Mais uma etapa com tudo, voltamos a cruzar-nos com muitos peregrinos e começamos mais uma vez com subida ao monte do perdão, por esta altura já todos tínhamos percebido como eram os vários andamentos e Eu, o Henrique e a João decidimos seguir os três juntos. Neste dia encontramos vários troços em obras mas que obrigaram a que se criassem caminhos alternativos.
Passagem por Puente de la reina onde se cruzam dois dos caminhos (o Real Francês e o Aragonês)
É uma das etapas mais duras tem bastantes subidas e algumas descidas com muito calhau solto o que as torna bem técnicas. Já se nota nos peregrinos a pé um cansaço diferente. Pois nesta fase muitos deles vão no sexto dia. No final do dia sinto-me bem e gozo de mais um single track em carrossel até à entrada de Logroño. Chegamos no dia da festa da cidade e o António levou-nos a provar comida da região, houve quem reclamasse com a falta de massa.


3ª Etapa - Logroño - Santo Domingo de la Calzada - 54 km


Esta é uma etapa de descanso, após dois dias duros, sabe bem. A saída de Logroño é feita pelo parque da cidade em alcatrão e logo a seguir a Navajete entramos nas vinhas da zona de la Rioja, no final de umas das vinhas encontramos uma estrada romana ladeada de pequenos montes de pedras. Eu coloquei uma pedra no cimo de um dos montes e segui. Depois seguimos rápido até Najera e após um almoço improvisado seguimos até ao final por estradões largos e muito rolantes e chegamos a Santo Domingo de la Calzada. Ficamos num hotel excelente um Parador. E foi no jantar deste dia que me comprometi a realizar a Supertravessia de Portugal em 2005. (Devia ser da falta de Oxigénio)

4ª Etapa - Santo Domingo de la Calzada - Castrillo del val - 60 km

O inicio da etapa é muito rápido e rolante até Vila Franca dos Montes de Oca onde rolamos em estrada com vento contra. Depois de Vila Franca a subida do dia com um começo técnico com muita pedra solta até entrarmos num bosque seguido de um pouco de rompe pernas para terminar numa descida rápida que nos deixa em S. Juan de Ortega . (Mais um carimbo na credencial). E no final seguimos por estrada até castrillo del Val.


5ª Etapa - Castrillo del val - Carrion de los condes- 99 km


O início era muito rápido e feito por estrada até Burgos onde no dia anterior tínhamos estado a visitar a Catedral. Neste dia subimos ao planalto e aos 900 mts de altitude o que avistamos é uma imensidão de terreno parecido com uma mesa de bilhar onde vão pontuando as cabeças dos vários peregrinos que se podem avistar a uma grande distancia.

Almoçamos no Convento de Santo António para depois nos depararmos com uma subida a meia encosta (a dificuldade do dia), para finalizarmos em estradão largo ao lado do Canal de Castilla. paragem para visitar uma Igreja Templária e depois seguir ao Mosteiro de San Zoio onde ficamos Hospedados.






















6ª Etapa - Carrion de los condes - Leon- 99 km

Esta etapa tem pouco para contar rola muito em estrada e de relevo só o facto de termos encontrado muitos brasileiros que ganham nova força quando ouvem falar português - nesta fase os peregrino a pé levam entre 18 e 20 dias a caminhar. De relevo a nossa visita ao centro de Leon e à catedral.

7ª Etapa - Leon - Ponferrada - 104 km

Volta o BTT!

A saída de Leon é feita em estrada mas esta é a etapa da subida à cruz de ferro, do grande personagem que é o templário, das fabulosas descidas e singletracks até Molina Seca mesmo muito bom e para finalizar chegada a Ponferrada que estava em festa. (Mais tarde contarei algo mais sobre esta etapa).
8ª Etapa - Ponferrada - Trabadello del camiño - 40 km

Mais uma etapa de descanso o facto de a etapa ser curta permitiu que saíssemos mais tarde e assim pudemos ficar mais um pouco na cama. Para contar só o facto de me ter cruzado com um peregrino que tinha saído da Suíça a pé no dia 1 de Julho (estávamos a 9 de setembro) ainda lhe faltavam perto de 7 a 8 dias para chegar. Depois de Vila Franca del Bierzo ainda tivemos tempo para subir uma boa subida que depois desceu rapidamente, entre singletracks e muito cascalho, até ao Hotel de beira de estrada em que ficamos.

9ª Etapa - Trabadello del camiño - Puerto Marin - 88 km

O dia começava com alcatrão mas rapidamente seguia para a subida ao Cebrero um pouco técnica com muita pedra à mistura e bem escorregadia. A subida é boa pois tem alguns empenos em que se tem de pensar antes de colocar a roda. Chegada então ao Cebrero Vila tipicamente Celta com muita casa de Pedra e telhados de colmo.

A seguir entramos numa parte de carrossel e o final é muito rápido, antes da chegada ainda tempo de apanhar um valente susto, quando o Ricardo Gomes travou após ter sido picado por uma abelha (de salientar que vínhamos a descer a mais de 50 km/h) não sei como não lhe acertei. Chegada a Puerto Marin com direito a umas belas saldas de Polvo à Galega e umas Cidras bem frescas.

10ª Etapa - Puerto Marin - Santiago de Compostela - 94 km

Era o ultimo dia da minha primeira aventura em BTT, já sentia um pouco de nostalgia, tanto que as grandes recordações que tenho deste dia são: O Monte do Gozo e a chegada a Santiago.

Relembro ainda o grande numero de peregrinos com que nos cruzamos neste dia e quanto mais perto estamos de Santiago, mais alegres se vão tornando estes viajantes. O mesmo estava a acontecer connosco e tínhamos combinado que os primeiros a chegarem ao Monte do Gozo esperavam para que entrássemos todos juntos em Santiago e assim foi. Entramos em Santiago descendo uma escadaria que nos deixou mesmo na praça principal em frente à Catedral. Aí tive o meu primeiro troféu como BTTista. À minha espera tinha a Isabel, os meu pais e o pai da Isabel (Obrigado por terem lá estado). Tinha conseguido! Tinha cumprido um sonho de muitos anos.


Quando saí de Santiago o Caminho já estava feito e trazia também a promessa de fazer a SuperTravessia.

Este é o relato puro desta minha aventura, mas a verdade é que o Caminho de Santiago foi para mim mais que um passeio de BTT, foi também um percurso onde descobri algumas coisas, e onde testei algumas vezes a minha força de vontade.
Talvez um dia vos conte um episódio passado durante a subida à Cruz de Ferro.

Sem comentários: